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Você já deve ter se perguntado o motivo pelo qual as pessoas contam histórias que não aconteceram, acreditando que os detalhes que estão narrando realmente ocorreram. Mas por que não se trata de uma mentira? É isso que vamos descobrir ao longo deste texto!

O que são as falsas memórias?

O nosso cérebro é o órgão responsável pelo armazenamento das nossas experiências de vida, formando o que chamamos de memória. Entretanto, o processo de construção da nossa memória não é linear. Com o avanço das pesquisas em Psicologia e em Neurociências, foi possível compreender que nosso cérebro não registra informações da mesma maneira que uma câmera fotográfica.

Diante disso, verificou-se que podem haver falhas no processo de armazenamento de uma memória. Esses erros no processamento da memória são o que chamamos de Falsas Memórias.

Portanto, se uma pessoa relata um acontecimento que jamais existiu, pode não ser uma mentira. Pode ser que apenas houve um defeito na retenção da sua memória. Quando uma pessoa está realmente mentindo, ela sabe que o evento não é verdadeiro. Ela tem consciência disso e, muitas vezes, quer obter uma vantagem com essa mentira.

Como surgem as falsas memórias?

Os estudos para se explicar o surgimento das falsas memórias começaram no início do século XX. A pesquisadora Elizabeth Lofthus foi quem se destacou nesta seara. Suas pesquisas concluíram que uma lembrança pode ser totalmente modificada devido à informações errôneas de fatos em tempo algum experienciados. Além disso, situações vividas podem ser alteradas por erro na gravação dessa memória.

Diante disso, Loftus verificou que existem dois tipos de falsas memórias: as surgidas de situações que não ocorreram (sugeridas) e as decorrentes de memórias que foram expandidas pela nossa imaginação (espontâneas).

As falsas memórias espontâneas podem ser geradas pela incapacidade da pessoa de captar todas as circunstâncias de uma situação. Devido à esta falta de detalhes, o cérebro tenta preencher essas lacunas. Assim, mesmo sem perceber, o sujeito insere elementos falsos na sua recordação.

Outra forma de criar uma falsa lembrança espontânea é quando há outras informações que podem influenciar na consolidação da memória. Um exemplo simples: você está saindo de casa e tem que pegar a chave do carro no porta-chaves. Nesse instante, recebe uma mensagem no celular e começa a conversar com a pessoa. Chega no carro e tem certeza que pegou a chave, mas a chave não está contigo. Portanto, seu cérebro gravou a sua intenção inicial que era pegar a chave do carro, mas a mensagem fez você se esquecer dela.

Erros de atribuição também são outra forma de surgimento de falsa memória espontânea. Por exemplo: duas pessoas se lembram de uma mesma situação (chuva de granizo), mas cada uma acredita que esta ocorreu em um evento diferente (uma acha que foi no Natal passado e a outra no ano novo).

A falsa memória sugerida é aquela que combina uma memória verdadeira com sugestões vindas de outras pessoas. Nesse sentido, foi feito um estudo para comprovar que é possível sugestionar a lembrança do indivíduo. Nesse estudo, havia dois grupos de pessoas. Para ambos os grupos foi apresentada uma cena de um acidente automobilístico, que mostrava dois carros se colidindo. Em seguida, para cada um dos grupos foi relatada a cena apresentada de forma diferente. Para o primeiro grupo foi mencionado que um automóvel tinha sido esmagado no acidente. Para o segundo grupo foi falado apenas que os automóveis tinham se colidido. Após uma semana, cada um dos grupos foi questionado sobre a cena que haviam assistido. O grupo que ouviu o relato sobre o automóvel ter sido esmagado, contou a cena como se o carro tivesse ficado totalmente destruído, sendo que na cena houve uma colisão simples.

Conforme demonstrado, o nosso cérebro não registra lembranças como uma filmadora ou uma máquina fotográfica. O processo de aquisição de memórias é influenciado pela neurobiologia de cada ser humano. Cada história contada por uma pessoa terá nuances de como o seu cérebro captou o evento. E isso não é uma mentira, pois a pessoa tem certeza que aquilo que está contando aconteceu da forma como está relatando.

 Percebe-se, portanto, a importância do estudo das falsas memórias tanto para o campo da Psicologia como para o Direito. Na área jurídica, uma falsa memória pode mudar totalmente o desfecho de um processo, seja na área cível ou criminal.

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