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O país acordou em luto no dia 27 de janeiro de 2013. Durante a madrugada, uma tragédia ocorrida em uma boate em Santa Maria, RS, levou a óbito mais de 200 jovens.

Uma festa universitária organizada por estudantes dos cursos de agronomia, medicina veterinária, zootecnia, pedagogia, técnico em agronegócio e técnico em alimentos foi o início da quinta maior tragédia da história do país.

Quase uma década após os acontecimentos do incêndio da Boate Kiss, o caso voltou a receber atenção da mídia quando o júri que condenou quatro réus pelas 242 mortes foi anulado.

Boate Kiss durante o trabalho da Perícia Criminal.

Nesse conteúdo, buscamos explicar o que ocorreu com as vítimas e o motivo da Boate Kiss poder ser considerada uma câmara de gás moderna.

O caso da Boate Kiss.

A Netflix acaba de lançar a série “Todo Dia a Mesma Noite – O Incêndio da Boate Kiss”. “Um incêndio na boate Kiss mata 242 pessoas. Agora, os familiares das vítimas lutam por justiça”.

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Na noite de 26 de janeiro de 2013, centenas de jovens compareceram à festa “Agromerados” na boate Kiss. A grande maioria, estudantes universitários. Estima-se que de quinhentas a mil pessoas estavam na boate naquela noite, número muito acima do que seria considerado seguro.

No começo da madrugada do dia seguinte, a segunda banda a se apresentar utilizou um sinalizador de uso externo para soltar faíscas.

Essas acabaram atingindo o teto da boate, incendiando a espuma de isolamento acústico, iniciando o incêndio. Em poucos minutos, uma densa fumaça preta tomou conta de toda a boate.

Quando as pessoas correram em direção à saída, os seguranças pensavam se tratar de uma briga ou que os clientes da boate estavam tentando sair sem pagar as comandas e, por isso, inicialmente, não deixaram as pessoas escaparem pela única porta que havia na boate.

Uma grande parte das vítimas confundiu a porta do banheiro com portas de emergência. Infelizmente, não havia saída pelos banheiros, onde a maior parte dos corpos foi encontrada.

Como ocorreu a maior parte das mortes.

Quando se fala em um incêndio de grandes proporções, imagina-se, logicamente, que a maior parte das vítimas tenha falecido em decorrência do fogo. No caso do Boate Kiss, estima-se que a causa da morte da maioria das vítimas tenha sido intoxicação por cianeto.

Uma espuma de colchão era utilizada como forma de isolamento acústico, sem ser notada pelos órgãos de fiscalização. Trata-se de um material altamente inflamável.

Já o artefato utilizado pela banda solta faíscas que podem chegar a 4m de altura, motivo pelo qual deve ser usado apenas em ambientes externos. Ainda, libera grande quantidade de fumaça.

Das 242 vítimas fatais,

  • 235 morreram no dia do incêndio
  • 7 morreram nos meses seguintes após atendimento hospitalar

A boate não possuía saídas de emergências, tampouco sinalização adequada. Isso, somado à densa fumaça preta que logo tomou conta do local, levou muitas pessoas a tentarem fugir pelas janelas do banheiro. Perto do palco, a temperatura chegava aos 300 graus.

Um dos bombeiros que atendeu o local, à época, afirmou ter conseguido acessar o interior da boate apenas às 4h30, quase duas horas após o início do incêndio. Foram encontrados apenas 18 corpos ainda não retirados da Kiss na região onde ficava o palco em que estava ocorrendo o show.

Logo, o bombeiro foi chamado para observar os banheiros masculino e feminino, onde ficava a única luz de emergência da boate. Dentro dos banheiros? Uma pilha de corpos entrelaçados.

Todos morreram asfixiados.

Envenenamento por Cianeto.

Você provavelmente conhece o cianeto das suas aulas de história no colégio. Ele foi o principal gás utilizado pelos nazistas na 2ª Guerra Mundial para exterminar judeus e outras minorias nas câmaras de gás.

Atualmente, a maioria das mortes causadas pela intoxicação por cianeto se dá justamente em incêndios.

Extremamente tóxico, o cianeto atua no organismo humano causando anóxia histotóxica, isso é, uma redução dos níveis de oxigênio nos tecidos. É justamente essa redução extrema do oxigênio que causa a morte. No caso da Boate Kiss, o cianeto foi liberado pela queima do material poliuretano, do qual era composta a espuma utilizada para isolamento acústico.

  • Quando uma pessoa entra em contato com o gás do cianeto, ele se liga a enzimas de ferro
  • A anóxia é produzida devido à ligação do cianeto com uma proteína terminal na cadeia de transporte de elétrons na membrana mitocondrial
  • Essa proteína (citocromo c oxidase) é responsável pela cadeia de transporte de elétrons na membrana da mitocôndria
  • Essa interação inibe a transferência de elétrons para o oxigênio molecular, impossibilitando o uso do oxigênio pelo organismo
  • O cianeto paralisa os mecanismos de produção de energia das células, matando-as

Uma pessoa saudável pode ir a óbito após apenas um minuto de exposição significativa ao gás. As vítimas da boate Kiss morreram entre 3 e 5 minutos após o incêndio ter começado. O monóxido de carbono gerado pelo fogo associado ao cianeto potencializou ainda mais o efeito do envenenamento. A Boate Kiss, na noite de 27 de janeiro de 2013, transformou-se em uma câmara de gás do século XXI.

Conclusão.

Para muitos, ainda é doloroso falar sobre essa tragédia. Quase uma década depois, aos poucos, observam-se mudanças na forma como eventos em locais fechados são realizados. É uma prova triste da necessidade da fiscalização dos materiais utilizados em casas de shows e locais semelhantes.

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